No penúltimo documentário de Philibert até à data, o realizador filma uma escola de jovens enfermeiras em Paris durante um período de três anos, numa reflexão sobre a dor, a doença, o medo e a morte, onde o sofrimento maior não é colocado pela doença, mas pela exigência do ensino colocado às alunas. Um filme, também ele, metódico.

LE FACE NORD DU CAMEMBERT é o primeiro filme “propriamente dito” de Philibert, onde Christopher Profit é convidado a servir de duplo de um ator na comédia BILLY ZE KICK de Gérard Mordillat. Philibert filma um Profit que escala um edifício de 60 metros, sem qualquer tipo de suporte físico, numa obra autorreflexiva, que aponta a câmara ao próprio cinema.

Os bastidores de um dia na vida da Radio France, de uma madrugada a outra. Percorrem-se as vivências nos estúdios de gravação, acompanhando radialistas, jornalistas e convidados, e o trabalho em campo, reportando desde a Volta à França em bicicleta ao trabalho de um fotógrafo de tempestades. Na sua forma singular de “tornar visível o invisível”, Philibert revela-nos o quotidiano de um meio de comunicação social cujo veículo (o som) é inerentemente infilmável.

LA MOINDRE DES CHOSES é um documentário poderoso sobre a encenação e representação de uma peça teatral (uma comédia de Gombrowicz) num hospital psiquiátrico francês, onde participam quer os funcionários do hospital quer os pacientes. Nem sensacionalista nem piedoso, o olhar de Philibert prefere fixar-se no vazio, na solidão e na fadiga dos doentes mentais.

Segunda longa-metragem assinada a solo por Nicolas Philibert, LA VILLE LOUVRE percorre os bastidores do Louvre (galerias e reservas) durante as horas em que o museu está fechado ao público. Philibert: “LA VILLE LOUVRE não é um filme de arte, como não é uma reportagem de tipo sociológico sobre pequenos ofícios. Quis contar uma história a partir de um material vivo, transfigurar o real para criar emoções; filmei as pessoas do Louvre como filmaria um bailado”.

Na primeira obra de Philibert (realizada em parceria com Gérard Mordillat, no que fora, também, a sua estreia na realização) são entrevistados doze presidentes de grandes empresas francesas (desde a L’Oreal à IBM France), que percorrem temas como a hierarquia, os sindicatos, ou as greves, sem quaisquer interrupções por parte dos realizadores. Uma obra sobre a retórica patronal, e as consequências do poder, que procura uma nova abordagem ao cinema militante. Censurado, à época, na televisão francesa, e lançado num número limitadíssimo de salas de cinema, a versão completa do filme, a exibir, permaneceu inédita até ao seu relançamento já em 2007. Primeira apresentação na Cinemateca.

LE COMEBACK DE BAQUET é uma obra-homenagem, onde Maurice Baquet se propõe a escalar os 3800 metros da Aguille du Midi, em memória do seu amigo recém-falecido, Gaston Rébuffat. Nesta heróica (r)escalada, Baquet convida agora Christopher Profit, pouco depois da sua lendária subida aos Alpes em 1987.

Documentário que percorre as vivências de várias pessoas com défice de surdez, desde uma turma de alunos, um casal de namorados, ou uma mulher cuja ausência de audição fora diagnosticada como demência. LE PAYS DES SOURDS é Philibert no seu mais empático (sem nunca recorrer ao sentimentalismo fácil) no que fora um dos seus maiores êxitos comerciais em França (mais de 100.000 bilhetes vendidos).

Nenette é um orangotango fêmea do Jardim des Plantes em Paris. Presa numa jaula há 40 anos, é a principal atração daquele espaço. Neste documentário, Philibert procura os comentários dos visitantes que passam por Nenette diariamente, vozes dadas em off pois a câmara nunca abandona a figura de Nenette, e do seu filho, Tübo. Nas palavras de Pascal Catheland, “Philibert coloca a câmara no lado dos homens e filma através do espesso vidro que separa as espécies.” Primeira apresentação na Cinemateca.

Olhar para o processo de construção de um espectáculo teatral pelo Teatro Nacional de Estrasburgo, desde a conceção à apresentação no palco. Os criadores são confrontados com as mais diversas dificuldades (que história contar? como transfigurar a realidade para originar a ficção?), num exercício que, na sua seletividade, poderá espelhar (ou não?) as preocupações do próprio Philibert.

Este “retorno” é uma tentativa de reencontro de Philibert com os atores que participaram em JE SUIS PIERRE RIVIÈRE, de René Allio, filme em que terá trabalhado como assistente de realização. O filme de Allio, inspirado num triplo homicídio ocorrido no século XIX, usara camponeses da região como parte do elenco. São esses “não-atores” que Philibert procura, num regresso à “cena do crime”.

Um documentário que constituiu um inesperado sucesso de bilheteira internacional, e que nos conta a vida e as experiências educativas de um professor e dos seus alunos numa região rural da França ao longo de um ano letivo. A passagem das estações do ano e os pequenos rituais escolares marcam o ritmo contemplativo de um documentário construído em modo observacional e capaz de dar conta da complexidade deste pequeno mundo e da relação entre as crianças e os adultos que zelam pela transmissão de saberes e pelos processos de socialização numa determinada comunidade.

Estreado este ano no Festival de Cinema de Berlim (onde obteve o Urso de Ouro), SUR L’ADAMANT segue as reflexões clínicas do anterior DE CHAQUE INSTANT. O contexto é o de uma clínica psiquiátrica à beira do rio Sena, a partir da qual Philibert traça agora o lado dos cuidadores, mas também dos pacientes. Uma calorosa, e nunca forçada, exploração de diferentes perceções em torno do tratamento psiquiátrico e da saúde mental.

Nesta heróica (r)escalada, Baquet convida agora Christopher Profit, pouco depois da sua lendária subida aos Alpes em 1987, explorada a fundo em TRILOGIE POUR UN HOMME SEUL, a mais completa dedicatória de Philibert a este montanhista.

Philibert acede à Galeria de Zoologia do Museu de História Natural em Paris para filmar a coleção e os seus respetivos processos de conservação, como a dissecação, o embalsamamento, ou a posterior maquilhagem dos animais, para serem expostos nas grandes salas daquele extinto palácio. Uma obra paradoxalmente naturalista, que se estabelece numa metamorfose inversa: da morte para a vida.